Procura-se este espectáculo

Num lugar longe de tudo, um quarto.
Um quarto de portas e janelas voltado para uma árvore.
Um quarto mínimo. Uma cama, uma mesa e um banco.
Um quarto com camadas de tempo e lembrança.
Lá dentro, alguém cumpre a função essencial de o habitar. Sonha.
Pelo sonho, transcende a geometria do quarto. As paredes movem-se.
Quarto interior. O quarto que está em nós.
O quarto onde somos nós connosco próprios.
O quarto onde mora o âmago do ser.
Aqui, vive-se a eterna luta entre a matéria e o sonho.
Sonho com o imenso, o ilimitado. Com um céu infinito e o voo dos pássaros.
Sonho com a liberdade. Com a paz dos anjos.
Sonho brutalmente interrompido por um corpo que sofre de ruína.
Um corpo que se quebra e vê as suas bases desfazerem-se em pó.
Um corpo feito de passado e de memória. De ausência e de saudade.
De tristeza e morte.
Um corpo que pertence à terra.
Ouço-me, amparo-me, descanso-me no quarto ninho.
O ninho, a toca, o ovo.
A casa do ser encolhido, do ser protegido.
A morada animal dos sonhos. Dos sonhos de ninho.
O quarto abre-se para os deixar passar.
O quarto cresceu. Encheu-se de ar. Abriu-se ao céu e às árvores.
Chegam os pássaros e com eles a felicidade da vida alada.
Inverte-se a curva do tempo.
É tempo de renascimentos.
Circolando
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