quarta-feira, agosto 02, 2006

"não se trata de ver Deus mas de tocá-lo"



"(...) uma obra de arte pode revelar um outro plano da existência, mas tens de aprender a ver, como na ilha, como a àgua e os pássaros e as rochas e as flores que crescem nas rochas."

Ana Teresa Pereira





'Siesta' de Pierre Bonnard

terça-feira, agosto 01, 2006

Procura-se este espectáculo


Num lugar longe de tudo, um quarto.
Um quarto de portas e janelas voltado para uma árvore.
Um quarto mínimo. Uma cama, uma mesa e um banco.
Um quarto com camadas de tempo e lembrança.
Lá dentro, alguém cumpre a função essencial de o habitar. Sonha.
Pelo sonho, transcende a geometria do quarto. As paredes movem-se.

Quarto interior. O quarto que está em nós.
O quarto onde somos nós connosco próprios.
O quarto onde mora o âmago do ser.






Aqui, vive-se a eterna luta entre a matéria e o sonho.
Sonho com o imenso, o ilimitado. Com um céu infinito e o voo dos pássaros.
Sonho com a liberdade. Com a paz dos anjos.
Sonho brutalmente interrompido por um corpo que sofre de ruína.
Um corpo que se quebra e vê as suas bases desfazerem-se em pó.
Um corpo feito de passado e de memória. De ausência e de saudade.
De tristeza e morte.
Um corpo que pertence à terra.

Ouço-me, amparo-me, descanso-me no quarto ninho.

O ninho, a toca, o ovo.
A casa do ser encolhido, do ser protegido.
A morada animal dos sonhos. Dos sonhos de ninho.
O quarto abre-se para os deixar passar.

O quarto cresceu. Encheu-se de ar. Abriu-se ao céu e às árvores.
Chegam os pássaros e com eles a felicidade da vida alada.
Inverte-se a curva do tempo.
É tempo de renascimentos.

Circolando