segunda-feira, fevereiro 27, 2006

Outra invenção do amor

" -Cuál seria tu última propuesta para los hombres civilizados?
-El urgente establecimiento del orden pasional."

[Leopoldo María Panero em entrevista com Luc Demeuleneire]

domingo, fevereiro 26, 2006

Duas frases separadas mas juntas




-Conta só mais uma história.
[ao fim de uma hora]

-Pensava ligar para te ler um conto, que te parece?

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Comunidade de Leitores esta Sexta-feira 21H30

Vai acontecer aqui na Livraria uma reunião informal da nossa Comunidade de Leitores.A Comunidade de Leitores é composta por pessoas que se encontram à volta de livros.
É um grupo informal, sem regras e número limitado de membros.
Lemos um livro, discutimos a obra de desterminado autor, convidamos escritores a conversar connosco.

Bebemos chá e não nos calamos.
Acontece todas as últimas Sextas-feiras de todos os meses.
Esta Sexta vai moderar a sessão o Professor Abílio Hernandez Cardoso que nos vem falar sobre Literatura e Cinema.

O Professor Abílio Hernandez Cardoso é Professor Associado do Instituto de Estudos Ingleses da Universidade de Coimbra. Foi recentemente o responsável pela programação da Coimbra Capital da Cultura 2003. É Director da Sala de Estudos Cinematográficos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra; membro do secretariado da licenciatura em estudos artísticos da Faculdade de Letras de Coimbra; membro da Comissão para o Ensino das Artes na Universidade de Coimbra; ex Director do TAGV; É especialista em James Joyce, em Narrativa Literária e Narrativa Fílmica e História e Estética do Cinema.


Apareça. Venha encontrar-se com Livros.
"Espero que o povo português se especialize no impossível"

Agostinho da Silva

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Saudades de casa

Exausto
Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o sono profundo das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.
Adélia Prado (em Bagagem)


imagem roubada a Luís Rodrigues
(www.astormentas.com)

Paixão por Adélia



















O Intenso Brilho


É impossível no mundo
estarmos juntos
ainda que do meu lado adormecesses.
O véu que protege a vida
nos separa.
O véu que protege a vida
nos protege.
aproveita, pois,
que é tudo branco agora,
à boca do precipício,
neste vórtice
e fala
nesta clareira aberta pela insônia
quero ouvir tua alma
a que mora na garganta
como em túmulos
esperando a hora da ressurreição,
fala meu nome
antes que eu retorne
ao dia pleno,
à semi-escuridão


Ensinamento

Minha
mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.

Não é
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
"Coitado, até essa hora no serviço pesado".
Arrumou pão e café , deixou tacho no fogo com água
quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.


Adélia Prado

Hora do Conto Todos os Domingos às 18h


Mesmo quando está muito frio.
Mesmo quando lá fora o Vento levanta muito os cabelos.
Aqui dentro há calor de Histórias.
Debaixo dos cabelos dorme a imaginação

A Hora do Conto às vezes é numa língua inventada




















































Hora do Conto de dia 12/02/2006 com o narrador Carles García Domingo.

As Horas de Penélope (Poesia)

A Hora

Esta é a hora mágica
em que os deuses
regressam do seu sono

em que as palavras
que nos foram dadas
se tornam nossas.

Ângela Leite, "As Horas de Penélope" Editora Âncora

imagem do Lançamento do livro de Ângela Leite
[na nossa Livraria de 12/02/2006]

sábado, fevereiro 18, 2006

O entrevistador foi entrevistado


A entrevista ao entrevistador vem hoje no Jornal Público nas últimas páginas.
Às páginas tantas a pergunta que incomoda:


"Não receia ser rotulado de entrevistador soft?"

Estamos a falar de alguém que não sai para a rua a perguntar às crianças o que acham da neve, estamos a falar de alguém que não está à porta de um qualquer evento(sem entrar) a perguntar aos traseuntes se gostaram.
Estamos a falar de alguém que nos aumenta o mundo, que nos faz descobrir outros caminhos, abrir livros.
Estamos a falar de uma das três pessoas que já leu Tonino Guerra.

SOFT???

Pode amar-se um Programa de Entrevistas?
O Pessoal e Transmissível é uma daquelas paisagens?

Da inveja


Conversa de Livraria:

-Que boa música, que quentinho, só falta um cházinho.
-Quer um chá?
-Não, obrigada.
[com uma pilha de livros prontos para levar para casa]
-Vou para casa estender-me no sofá.

Desde esta porta adivinha-se o mar

"[...]O Sol sai cedo de manhã
para dar mais luz ao meio-dia.[...]"
J.M. Fonollosa

Lá fora: rebenta uma tempestade de granizo
Cá dentro: está quentinho, há chá de ervas nórdicas e os jornais da semana estão abertos sobre as mesas.
Lá fora: as pessoas passam correndo e não falam, tiritam.
Cá dentro: escutamos a Martha Escudero que canta "Mala por naturaleza" e conta histórias de "malas mujeres".


Lá fora: não há lá fora para quase ninguém, hoje.
Cá dentro: livros, imagens do Vietname e outras daquelas paisagens.
Lá fora: o mar.
Cá dentro: um poema.


A Estrada Branca

Atrevessei contigo a minuciosa tarde
deste-me a tua mão, a vida parecia
difícil de estabelecer
acima do muro alto

folhas tremiam
ao invisível peso mais forte

Podia morrer por uma só dessas coisas
que trazemos sem que possam ser ditas:
astros cruzam-se numa velocidade que apavora
inamovíveis glaciares por fim se deslocam
e na única forma que tem de acompanhar-te
o meu coração bate

[de José Tolentino de Mendonça, no livro Estrada Branca, Assírio e Alvim]

terça-feira, fevereiro 14, 2006

o amor é uma força da natureza

















"O silêncio do amor que se cala é o silêncio que tira o sono"

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

da porta que abre outra porta que abre outra porta que abre outra porta



ou como seria este mundo sem o Fernando Alves?

Relato (parte 2) Montra de Janeiro


A Livraria vestiu-se com as escolhas de Janeiro desse suplemento que consumimos com avidez ao Sábado:

MIL FOLHAS

Relato (parte 1) dia 3 fevereiro

Serão de Narração (sempre nas primeiras Sextas-feiras do mês)


Este calendário de narração de 2006 trouxe-nos em Janeiro
o Jorge Serafim e uma casa cheia de poemas.
Em Fevereiro veio a Patrícia Pereira que nunca tinhamos escutado a contar.
Foi uma grande surpresa.
A Patrícia tem muita força.
As histórias são verdadeiras porque existem nas suas mãos,
nos seu olhos, na expressão da sua cara.
O corpo dela foi feito para contar.
Para ouvir e pedir mais
.
Dá vontade de repetir:
"Vejo-te através dos olhos, mas não com os olhos.
Se nunca viste os anjos sobre as árvores..."















Uma arte de comunicar com os anjos.

domingo, fevereiro 12, 2006



"O Homem imaginou uma cidade perdida na memória e repete-a como a recorda. O real não é o objecto da representação mas o espaço onde um mundo fantástico tem lugar"
Roberto Piglia "El último lector"

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Dias em que se amanhece poema















Já a luz se apagou do chão do mundo,
deixei de ser mortal a noite inteira;
ofensa grave a minha, que tentei
misturar-me aos duendes na floresta.
De máscara perfeita, e corpo ausente,
a todos enganei, e ninguém nunca
saberia que ainda permaneço
deste lado do tempo onde sou gente.
Não fora o gesto humano de querer-te
como quem, tendo sede, vê na água
o reflexo da mão que a oferece,
seria folha de árvore ou sério gnomo
absorto no silêncio de uma rima
onde a morte cessasse para sempre.

António Franco Alexandre
Duende

terça-feira, fevereiro 07, 2006

"O que fazer com uma rosa no Inverno?"
















"Un viejo refrán dice “no sirve de nada dar margaritas a los cerdos”. Y en este caso la sabiduría popular se hace imagen. O como decía mi abuelo cuando no entendía alguna cosa: ¿PA QUÉ?. ¿Para que darle un libro a alguien que no sabe para que sirve, salvo para aplastar una mosca, mientras se atraganta con una galleta, en una tarde de verano?. ¿Para qué?. Si no sabe utilizarlo por no llevar libro de instrucciones." Carles García Domingo [narrador]

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Pode amar-se demasiado?


"Compreendo agora que estarei sempre de partida enquanto os humanos teimarem em escrever, enquanto os humanos empenharem as suas vidas para descobrirem o que não há, enquanto cedam ao sonho de encontrar o seu verso certo."

Para consumir com carácter de urgência no blog do Paulo José Miranda "Portugal existe, o Coração gasta-se". Para Ler devagar enquanto faz frio.

C O R T A Z A R



"Are you looking at me, Cora?"

"Yo creo que desde muy pequeño mi desdicha y mi dicha al mismo tiempo fue el no
aceptar las cosas como dadas. A mí no me bastaba con que me dijeran que eso era
una mesa, o que la palabra "madre" era la palabra "madre" y ahí se acaba todo.
Al contrario, en el objeto mesa y en la palabra madre empezaba para mi un itinerario
misterioso que a veces llegaba a franquear y en el que a veces me estrellaba."




"En suma, desde pequeño, mi relación con las palabras, con la escritura, no se diferencia de mi relación con el mundo en general. Yo parezco haber nacido para no aceptar las cosas tal como me son dadas." Júlio Cortazar

Esse tal sotão onde havia um ladrão imaginário...
As palavras significam muitas coisas e não apenas o que querem dizer.
Nas palavras cabe quase tudo, porque elas habitam por cima da língua numa dormência expectante.
Saiem cá para fora para nos dizer, para transformar ideia que sai em ideia que entra.

domingo, fevereiro 05, 2006

A Invenção do amor

"[...]Em letras enormes do tamanho
do medo da solidão da angústia
um cartaz denuncia que um homem e uma mulher
se encontraram num bar de hotel
numa tarde de chuva
entre zunidos de conversa
e inventaram o amor com caracter de urgência
deixando cair dos ombros o fardo incómodo da monotonia quotidiana




Um homem e uma mulher que tinham olhos e coração e fome de ternura
e souberam entender-se sem palavras inúteis
Apenas o silêncio A descoberta A estranheza
de um sorriso natural e inesperado


Não saíram de mãos dadas para a humidade diurna
Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente
embora subterraneamente unidos pela invenção conjunta
de um amor subitamente imperativo[...]"


de "A invenção do amor e outros poemas", Daniel Filipe, Presença