sexta-feira, outubro 28, 2005

Razões para vir

(ao Teatro e à Livraria)














dia 4 de Novembro


21h30 | Serão de Narração Oral

Com o Serão de Contos pretendemos viajar através da Palavra. Através da palavra o galo que canta, o pescador que olha o olho do peixe que acaba de pescar. Através da palavra a sedução das noites de alguns bairros antigos em metrópoles, ou a intimidade de um bar obscuro onde se jogam jogos clandestinos pela madrugada. Histórias cuja essência é a de se converterem no ar e no som que sai da boca de uma mulher ou de um homem que conta um conto. Histórias que existem desde sempre e que nos definem. Histórias que nascem para contar quem somos hoje.
Histórias.
Para que se aninhem na alma do que as escutam e se transformem a partir desse momento nas suas próprias histórias.


Sábado | 5 de Novembro Visitas Contadas (com Quico Cadaval)
10h00 | 12h00
Desinatários | Maiores de 12 anos
25 pessoas por sessão
entrada livre

Com o objectivo de realizar visitas guiadas contadas, com o público como ouvinte a iniciativa «Visitas Contadas». A partir de estratégias e recursos lúdico-pedagógicos e criativos, o Teatro Aveirense tem mostrado o espaço de bastidores a vários segmentos de público. Nestas visitas percorrem-se espaços do Teatro como: o foyer, o palco, os camarins, a teia, ouvindo contos tradicionais e urbanos do mundo. A 4 e 5 de Novembro, no Teatro Aveirense.
Viajar pelos espaços do Teatro através da palavra, construindo um itinerário de histórias é um dos objectivos que vos propomos.

QUICO CADAVAL
Quico Cadaval é narrador, actor e director teatral. É reconhecido pela crítica e pelos seus pares como um dos melhores narradores de de toda a Espanha. Em Portugal foi Professor na Operação Triunfo e isso basta-lhe um reconheciemnto pelo Público.
Tem alma de escutar e aprendeu histórias verdadeiras com muito pouca credibilidade da boca dos boémios, dos solitários, dos filósofos que frequentavam a taberna da sua mãe.
"Cadaval fala ao mesmo ritmo que inventa. Alguém disse que escreve as suas histórias no ar e com essa intenção anda a percorrer a Galiza com histórias fantásticas mas que ao mesmo tempo nos parecem de sempre." (La Voz de Galicia / 2003)

Estas duas actividades são realizadas pela Livraria O Navio de Espelhos em parceria com o Festival Sons em Trânsito e com o Serviço Educativo do Teatro Aveirense. Juntos temos muito prazer em poder proporcionar a esta cidade um momento verdadeiramente extraordinário onde o moderno pode bailar com o antíguo. Onde a memória inscrita na tradição oral pode falar bem alto em espaços novos.



















dia 11> 21h30
Serão de São Martinho com contos e outras magias
21:30h

quarta-feira, outubro 12, 2005

Acidentes de Poesia

Retrato de uma princesa desconhecida

Para que ela tivesse um pescoço tão fino
Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule
Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos
Para que a sua espinha fosse tão direita
E ela usasse a cabeça tão erguida
Com uma tão simples claridade sobre a testa
Foram necessárias sucessivas gerações de escravos
De corpo dobrado e grossas mãos pacientes
Servindo sucessivas gerações de príncipes
Ainda um pouco toscos e grosseiros
Ávidos cruéis e fraudulentos
Foi um imenso desperdiçar de gente
Para que ela fosse aquela perfeição
Solitária exilada sem destino

Sophia de Mello Breyner Andresen

















dia 15 de Outubro 18h
no Café-Teatro
do Lirismo – recital de poesia e música
[Sophia...Eugénio...David...Natália]
com Alberto Serra (voz) e Juca Rocha (piano)

Organização: Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Aveiro / Bienal de Cerâmica & Livraria O Navio de Espelhos | Parcerias: Teatro Aveirense e Bar Café Teatro

terça-feira, outubro 11, 2005

As obscuras conexões da Livraria O Navio de Espelhos

Resposta a um comentário anónimo:

Alguém que, pelos vistos não veio ao nosso debate plural "Tem a palavra Cultura no seu programa eleitoral?", teceu um comentário do mais injusto que podia fazer.
A Livraria O Navio de Espelhos é um lugar de todos e para todos. Não se cola a nenhum partido político em absoluto. Em nenhum sentido.
Julgamos que a acção política pode vestir-se de variadas formas, que a participação social é para todos e que a todos nós devem ser assacadas responsabilidades das faltas sentidas no exercício do poder. Todos nós podemos ser Câmara Municipal.
E foi neste sentido que decidimos realizar aqui o único debate sectorial (cultura), com todas as forças políticas candidatas à Câmara Municipal, ocorrido durante esta Campanha.

"Toco no livro no bolso de dentro do casaco, no antigo lugar da arma, há agora o completamente diferente"
Erri de Luca


Muitas vezes atribui-se ao Livro e às Livrarias mais poderes do que infelizmente têm.
De qualquer maneira, muito Obrigada.

domingo, outubro 02, 2005

Palavras Andarilhas 2005

"Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; Mas quando não desejo contar nada, faço poesia."
Manoel de Barros


Fomos abrir o coração e ouvir muito. Viémos com uma azinheira para plantar em Aveiro, a árvore da resistência. Para que a àrvore de palavras não pare de dar frutos.
Encontrámos e fizémos amigos do peito: Pep Durán, Cristina Taquelim, Martha Escudero, Jorge Serafim, Tim Boyle, Cassilda, António Fontinha, José Craveiro, Paulo Condessa, Carles García Domingo, Matilde Rosa Araújo, António Torrado, Maria Teresa Meireles, Emília Traça, Alice Vieira, Gustavo Martin Garzo, José Luis Polanco (Peonza), José Fanha, Maurício Leite, Nuno Coelho, Luís Carmelo, José Fanha, Carlos Paulo, António Fontinha, Charo Pita, Patrícia Pereira, Tisha.

Porque:
"(...) quando as vozes do mundo passam por entre as suas folhas, a árvore sorri e escuta as histórias, contos ou lendas que ficaram presas na folhagem e que agora se agitam como asas. Só ela conhece os segredos que o vento traz e semeia pelos campos. Só ela conhece a dimensão da sua raiz. Só ela sabe como os seus frutos demoraram a crescer. Uma árvore assim feita de palavras é coisa nunca vista... e, por isso, em Setembro, são muitos os que a vêm visitar, sentar-se à sombra dela e ler, ouvir e contar."

A árvore é um simbolo, uma ilustração desta ideia. Porque a árvore de palavras já dá frutos em aveiro há pelo menos um ano. Aqui na Livraria todas as primeiras Sextas de cada mês há contos.
Este Outono a agenda arranca em força. Realizamos os Serões de Contos até ao fim deste ano em parceria com o Festival Sons em Trânsito e o Serviço Educativo do Teatro Aveirense.
Ficam aqui algumas datas:

dia 7 de Outubro 21h30 Cristina Taquelim (Beja)

dia 4 de Novembro 21:30h Contos do País Galicia, com Quico Cadaval

dia 26 de Novembro 24h Carles García Domingo(Valência/Espanha) e António Fontinha(Portugal) Serão de Contos Tradicionais


dia 3 de Dezembro 24h Noémi Caballer (com Carlos e Diego Pedragosa) (Barcelona)
Narradora urbana, e da nova geração de narradores. Delicada e sensual, mas com umas histórias contundentes.
Conta contos eróticos no seu espectáculo "Hablemos de Saxo" e cria um ambiente especial com saxofone ao vivo.

Sopra na voz até que dê som


A Palavra amor está quase vazia / está quase cheia

E o António Poppe mudou as malas cheias de poemas aqui para o sofá até libertar o livre curso da poesia. As palavras rodaram no ar, tanto. Até à embriaguez do verso. Até pensarmos: Feliz aquele que administra sabiamente a memória e aprende a reparti-la em poemas.


Recebemos o Paulo da Costa, directamente do Canadá. Lemos os poemas deste interessante poeta bilingue. Conversámos sobre tradução e do que pode ser contar alguma coisa numa língua, porque apenas se podia fazer assim, e depois vertê-la para outra.

Espreitem-no em http://www.paulodacosta.com.

A vida começa a ser real algures aqui















Antes de Setembro: fizémos a dita Comunidade de Leitores, como sempre na última Sexta-feira de cada mês.
A Comunidade de Leitores é uma mesa com chá e bolinhos (da Avó) e pessoas que se juntam para falar do livro que andaram a ler, ou a espreitar, no último mês. Depois convidamos o escritor a vir até esta tertúlia. Em Julho lemos o Sr. Valéry e foi muito boa a conversa com o Gonçalo M. Tavares, teve acesa discussão e tudo. Contra a unanimidade. O texto como um treino para agitar o músculo de reflectir, de pôr em questão, de estar alerta.
Lemos "O Mal", do Paulo José Miranda, que teve a amabilidade de escrever um texto sobre o livro que aqui deixo para que a Comunidade de Leitores se alarga (mas não muito).

TEXTO PARA SER LIDO NUMA CIDADE
[Para a Sónia Sequeira e para o Filipe Teles]

O livro O Mal foi escrito numa quinta perto de Istambul, junto ao Mar
Negro. Escrevi o livro nessa casa, no mês de Julho de 2002. A ideia do livro não foi minha. O senhor André Jorge, editor da Cotovia, propôs-me uma de duas coisas: uma estadia de três meses no Japão, para escrever um texto ficcionado acerca de Venceslau de Moraes ou uma estadia em Macau para escrever um texto do mesmo género acerca de Camilo Pessanha, e qualquer uma das viagens e estadias seria patrocinada pela Fundação Oriente. Não tive dificuldade, nem em aceitar, nem em escolher a segunda das propostas. Não pelos lugares, mas pelos autores. Pessanha fascina-me e Venceslau, não. Ao tempo, vivia em Istambul. regressei a Lisboa duas semanas antes, para depois embarcar para Macau, no início de Fevereiro de 2001. Confesso que não sabia o que se iria passar com o livro. Em relação à minha escrita, sou extremamente organizado e incorruptível, pois tenho livros em lista de espera para escrever, dentro da minha cabeça, demoro muito até que comece a escrever e não permito que nenhum passe à frente de outro que já esteja na fila, mesmo que a vontade de o escrever seja muita. Escrevi um livro em Outubro passado, no qual venho pensando desde 1998, assim que acabei de escrever Natureza Morta, embora já soubesse, muito antes disso, que iria escrever o Vício, e escrevi-o. Por conseguinte, escrever O Mal foi a minha primeira, e única, experiência de corrupção às minhas próprias regras, até à data. Um livro passou à frente dos outros por causa de interesses. Isto afectou a história toda do livro, certamente, mas também causou a demora que levei em escrevê-lo. Alguma coisa em mim, provavelmente eu, não queria escrever este livro. Como havia um contracto, reconheço, hoje, que o melhor para mostrar Portugal e Macau, à imagem da narrativa, seria não escrever o livro! Por outro lado, o narrador do livro para ser conforme à imagem de Pessanha teria de escrevê-lo. Digo o narrador, porque as primeiras páginas foram escritas ainda em Macau, no final do primeiro mês em que lá estive. Em Macau, escrevi até à página dezoito, e escrevi também o fim, o relato da trafulhice dos quadros, que se soube precisamente quando eu estava lá. Faltava-me ligar o princípio ao fim e carregar esse narrador comigo ao longo de quase um ano e meio. E foi o que fiz, bem ou mal. Espero que tenha sido mesmo mal! Mais por isto do que pelo facto de ser a primeira vez que escrevia centrado neste nosso tempo, com a linguagem do nosso tempo, considero O Mal um livro especial no conjunto dos meus livros. Até porque os livros que já tinha em lista de espera iriam ser, como são, centrados neste nosso tempo. Do ponto de vista pessoal, O Mal é um livro desenraizado, tal como o assunto que ele trata. Desenraizado de mim, dos meus projectos, das minhas próprias regras. Por outro lado, a minha experiência de viver vários anos na Turquia, em geral, e particularmente em Istambul, concedera-me também a experiência de desenraizamento cultural e linguístico, que tanto parece afectar o narrador de O Mal, ainda que sejam experiencias de desenraizamento bastante distintas. Mas quem já alguma vez sentiu falta de si, saudades de si, vai sentir sempre, ainda que possa não ser uma experiência contínua, e esperemos que não seja. Assim, e do mesmo modo, quem parte para ali compreende quem parte para acolá. No adulto, a experiência de viver fora da mãe é viver fora de casa, fora dos seus hábitos, viver fora da sua língua. Por isso, hoje que vivo mais longe de casa (se ainda tenho casa), mais longe do que quando vivia na Turquia, sinto menos violentamente a falta de mim. Porque aqui no Rio de Janeiro, no Brasil, a língua que uso aproxima-me de mim e dos outros, não me deixa sozinho, comigo ou com os outros. Quem escreve um livro de ficção é sempre o próprio e o não-próprio, assim como na vida somos sempre nós e não-nós. A vida e a literatura são muito diferentes, se não opostas, mas não o modo como o humano as experiencia. Experienciamos a vida e a literatura do mesmo modo: com afectação. Por conseguinte, o que há de mim e de não-mim no narrador é pouco importante para o leitor, mas já não será pouco importante para esse mesmo leitor perguntar-se o que há dele e de não-dele. No fundo, é esta pergunta que todos fazemos em relação ao que nos afecta, isto é, saber onde, em nós, está aquilo que nos afecta.

Paulo José Miranda
23 de Agosto de 2005, Rio de Janeiro

Reactualização de blog


Este blog é o reflexo do que por aqui se passa ou daquilo que nos vai passando pela alma. Ultimamente passa muito aqui à volta, e menos sobra para escrever. Em boa proporção quanto mais vives menos escreves. Provoca interrogações? Pois, segue a descrição breve e apaixonada do que se foi passando.


"É belo no Outono concluir que era o livro a única estação"