sábado, abril 23, 2005

Pedido: Um Dia do Livro assim cá no Burgo

Dia mundial do Livro em Beja:

(texto roubado ao blog http://espelhomagico.blogspot.com/

Quem quiser associar-se à iniciativa pode chegar a que horas quiser e participar em tudo o que lhe apetecer ou limitar-se a ficar sentado na cafetaria da Biblioteca e a pôr em dia as revistas ou artigos científicos mais recentes.
Sintam-se à vontade para chatear a equipa que vai andar por lá a cirandar, (eu incluida...) e que tem como missão fazer tudo para vos "satisfazer o desejo de requinte", que é como quem diz para que se sintam em casa (vão ver que o conseguimos!).
O jantar por entre as estantes dos livros, lamentávelmente, será só para os convidados oradores e acompanhantes, mas Beja tem uma quantidade considerável de restaurantes e tascas a preços variados, com boa cozinha alentejana. (se quiserem saber, perguntem a alguém nesse dia) e podem sempre trazer farnel para acompanharem a prova do Barca Velha ;-)

No final da noite, a açorda alentejana está garantida para os mais resistentes (sempre quero ver quantos é que se aguentam à bronca...)

Mal posso esperar pela vossa visita!


DIA MUNDIAL DO LIVRO
23 de Abril
PROGRAMA

Manhã - “Arruaça” de palavras nas ruas da cidade
Organizado pelas alunas estagiárias do curso de Animação Sócio-
Cultural da ESE de Beja

14.30h/24h Mercado do Livro

15.00h - Histórias na minha cidade – o livro gigante dos contos de
Beja
Com a participação dos alunos da ESE de Beja e dos ilustradores
Cristina Malaquias, Miguel Horta, Pedro Leitão e Carla Pott

17.30h - No fundo da mata eu vi
Sessão de contos pelo contador brasileiro Roberto de Freitas

19.30h - Para que as nossas histórias tenham um final feliz
espectáculo de contos para jovens e adultos, por Roberto de Freitas

20.30h - Apresentação do livro Barca Velha: Histórias de um Vinho
da autoria da jornalista Ana Sofia Fonseca; colaboração do
enólogo José Maria Soares Franco
Prova do néctar dos deuses

21.00* - Letras de Espanha
conversa à volta dos livros com os escritores Rosa Montero e
Antonio Sarabia

22.00h - Paixão, Amor e Sexo
pelo psiquiatra Francisco Allen Gomes

23.00h - Falam, falam...ou a escrita de humor em Portugal
por Ricardo Araújo Pereira, da equipa dos “Gato Fedorento”

24.00h - Camões é um poeta rap
pelo grupo de teatro Arte Pública

24.30h - Eu blogo, tu blogas, ele bloga... com a presença (e a revelação) dos autores do 100nada, Charquinho, Ruínas Circulares, Gato Fedorento, Espelho Mágico, BLOGotinha, Barnabé e Blogue de Esquerda.

01.30h – Espectáculo musical Vozes do Brasil

* das 21.00 às 23.00 A Biblioteca organiza um serviço de babysitting, para que possa disfrutar, em pleno da nossa programação

Numa cidade acordada, uma biblioteca sem sono

Uma noite para mais tarde recordar! 23 de Abril até às tantas!

O amor ao Livro tem destas coisas

Hoje o dia do Livro, um feriado que não vem no calendário.
Na Livraria oferecemos flores.
Há qualquer coisa de festa no ar.
De manhã bem cedinho fomos ao mercado buscar quase uma vereda interinha.
Limpámos, arrumámos, como se faz nos dias de festa.
Durante o dia vamos distribuindo, flor para lá-grande sorriso para cá.
Às vezes são precisos pretextos para abrir Livros, outras vezes não.


As comemorações começaram já durante a semana.
Fomos a duas escolinhas, onde vendemos livros e contámos histórias,
dissémos poemas. O entusiasmo dos escutantes arrasou-nos.
Numa vez até houve uma claque que em resposta à pergunta:
"Agora História ou Poema? "Respondeu: "Poema! Poema! Poema!"
E no fim ouvir: "Oh, não se vão embora, contem só mais uma",
ajuda a prosseguir, faz acreditar. Faz acreditar MUITO.
Aqui deixo-vos um dos poemas que deixámos nos ouvidos pequeninos.

O limpa-palavras

Limpo palavras.
Recolho-as à noite, por todo o lado:
a palavra bosque, a palavra casa, a palavra flor.
Trato delas durante o dia
enquanto sonho acordado.
A palavra solidão faz-me companhia.

Quase todas as palavras
precisam de ser limpas e acariciadas:
a palavra céu, a palavra nuvem, a palavra mar.
Algumas têm mesmo de ser lavadas,
é preciso raspar-lhes a sujidade dos dias
e do mau uso.
Muitas chegam doentes,
outras simplesmente gastas, estafadas,
dobradas pelo peso das coisas
que trazem às costas.

A palavra pedra pesa como uma pedra.
A palavra rosa espalha o perfume no ar.
A palavra árvore tem folhas, ramos altos.
Podes descansar à sombra dela.
A palavra gato espeta as unhas no tapete.
A palavra pássaro abre as asas para voar.
A palavra coração não pára de bater.
Ouve-se a palavra canção.
A palavra vento levanta os papéis no ar
e é preciso fechá-la na arrecadação.

No fim de tudo voltam os olhos para a luz
e vão para longe,
leves palavras voadoras
sem nada que as prenda à terra,
outra vez nascidas pela minha mão:
a palavra estrela, a palavra ilha, a palavra pão.

A palavra obrigado agradece-me.
As outras, não.
A palavra adeus despede-se.
As outras já lá vão, belas palavras lisas
e lavadas como seixos do rio:
a palavra ciúme, a palavra raiva, a palavra frio.
Vão à procura de quem as queira dizer,
de mais palavras e de novos sentidos.
Basta estenderes um braço para apanhares
a palavra barco ou a palavra amor.

Limpo palavras.
A palavra búzio, a palavra lua, a palavra palavra.
Recolho-as à noite, trato delas durante o dia.
A palavra fogão cozinha o meu jantar.
A palavra brisa refresca-me.
A palavra solidão faz-me companhia.


Álvaro Magalhães, O limpa-palavras e outros poemas

sexta-feira, abril 08, 2005

Serão de Contos de Abril

O Serafim andou por cá, tecendo um bocadinho do nosso infinito tapete de histórias.
Contou, leu poemas, brindou-nos com uma noite muito bonita.

Eu amo-te...eu não.
Eu e tu somos um...eu e tu já não.
Eu quero ser feliz...eu também mas não contigo.

ou

"Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava!
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os teus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os teus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...
já não se passa absolutamente nada.

E, no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos nada que dar.
Dentro de ti
Não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus." de Eugénio de Andrade

A Poesia ou a Prosa. Por anda a Poesia? E em que Poemas se esconde a Narração?